MONOGRAFIA 1° LUGAR

CONCURSO DE MONOGRAFIAS SOBRE A VIDA E A OBRA DE FELIPE TIAGO GOMES






DR. FELIPE: SUA VIDA E SUA GLÓRIA

Wellyson Marlon Jr. (Gregório I)












Picuí - PB
2011
WELLYSON MARLON JR. (GREGÓRIO I)








DR. FELIPE: SUA VIDA E SUA GLÓRIA





Monografia apresentada à Banca Examinadora do Concurso de Monografias sobre a vida e a obra de Felipe Tiago Gomes.













Picuí – PB
2011






















Às memórias de Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Fernando de Teixeira, Florestan Fernandes, Lourenço Filho e Paulo Freire – e a todos os que sonharam (lindamente!) com a democratização do ensino no Brasil.
Aos que guerreiam no cotidiano letivo-real por uma educação pública, democrática e de qualidade.
Aos que lutaram incansavelmente pela grandeza da CNEC.
A Felipe Tiago Gomes (in memoriam), ah, ao Dr. Felipe, por toda sua boniteza de ser humano.


“Cada um nasce com suas estrelas no peito.”
(Wolfgang Goethe)


“Um país se faz com homens e livros.”
(Monteiro Lobato)


“que toda la vida es sueño
y los sueños sueños son”
(Pedro Calderón de la Barca)


“Para ser válida, a educação deve considerar a vocação
ontológica do homem — vocação do ser sujeito — e as
condições em que ele vive: em tal lugar exato, em tal
momento, em tal contexto.”
(Paulo Freire)


“Há homens que lutam um dia e são bons.
Há outros que lutam um ano e são melhores.
Há os que lutam muitos anos e são muito bons.
Porém, há os que lutam toda a vida.
Estes são os imprescindíveis.”
(Bertold Brecht)
SUMÁRIO

RESUMO........................................................................................................................06
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................07
2. DESENVOLVIMENTO............................................................................................08
3. CONCLUSÃO............................................................................................................25
   REFERÊNCIAS..........................................................................................................26
  



















RESUMO


Dr. Felipe Tiago Gomes nasceu em Picuí, na Paraíba, em 1º de maio de 1921. Filho de pobres agricultores, sem perspectivas de um futuro promissor num período de seca e miséria extremas consegue estudar com enormes dificuldades, acaba se formando em Direito, no Recife. Foi nomeado prefeito de Picuí, em 1947. Em 1943 ao ler a obra-prima “O Drama da América Latina”, de John Gunther, descobre a experiência do  peruano Haya de La Torre que fundou Universidades Populares, alfabetizando os pobres, e onde cujos professores lecionavam gratuitamente. Desenvolve ao lado de colegas a Campanha do Ginasiano Pobre (CGP) que se tornaria a maior instituição filantrópica das Américas com o título de Campanha Nacional de Escolas da Comunidade – CNEC -, que teve seu auge nas décadas de 1960, 1970 e 1980 com apoio governante. Picuí pôde participar desse processo, sendo visível a obra cenecista na cidade, a educação para quem não dispunha de recursos financeiros suficientes. No Brasil inteiro, foram construídas mais de duas mil escolas cenecistas, por elas passaram grandes homens públicos como alunos ou como educadores, o maior exemplo é o ex-presidente da República José Sarney, que veio a Picuí trazido pelo professor Felipe, quando ainda no cargo público maior do país. Dr. Felipe faleceu na capital Brasília, em 21 de setembro de 1996. Uma vida repleta de muita luta, de vitórias e de glória.


Palavras-Chave: Felipe Tiago Gomes. CNEC. Educação.








1.    INTRODUÇÃO


Escrever sobre Dr. Felipe Tiago Gomes — vida e obra — é uma tarefa árdua, difícil e gratificante que requer grande responsabilidade, isto porque a respeito dele já escreveram exímios talentos reconhecidos das letras a nível nacional, tais quais Arnaldo Niskier, Austregésilo de Athayde, Rachel de Queiroz e Rubem Braga, afora o último, imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL). E o escrito não pode (nem deve) ser um panegírico incoerente, ao contrário, deve reconstituir factualmente a trajetória individual — e singular — em prol do coletivo desde o início ao decorrer de decênios da vida público-educacional brasileira do século XX.
“Se eu não fosse imperador desejaria ser professor, não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências juvenis e preparar os homens do futuro”, proferiu Dom Pedro II, na mais aproximada definição a que alguém tem chegado sobre o futuro de qualquer geração, independentemente de tempo e/ou de espaço. E a frase régia com seu tom terno, profético e veraz transforma-se (em parte) numa verdade absoluta do professor Felipe Tiago Gomes — o apóstolo da educação comunitária no Brasil.












2.    DESENVOLVIMENTO


    “Nenhum grande homem nasceu jamais cedo demais nem tarde demais”, como escreveu o britânico Norman Douglas. No dia 1º de maio de 1921, era domingo, e a família Gomes formada pelo casal de agricultores Elias e Ana Maria, junto com os filhos José Severiano, Maria, Francisca e Francisco davam às boas vindas ao seu mais novo e último membro, o caçula Felipe Tiago, no Sítio Barra do Pedro, no município paraibano de Picuí. Em “Escolas da Comunidade”, de 1989, Dr. Felipe descreve o universo que cercou sua infância, no prefácio:

        “...fui criado como milhares de outras crianças sertanejas: pés descalços e picados por espinhos impiedosos, mãos calejadas da enxada, incômodos “beliscões” das juremas e do colher do juá, pequeno fruto enganoso, com caroços grandes e parte comestível mínima. 
    A escova de dente era o dedo indicador e a casca do juazeiro, o creme dental; os remédios eram folhas e raízes; as festividades, duas ao ano: Natal, chamada Noite de Festas, e a do Padroeiro. Os meninos da minha época, na zona rural, não faziam aniversários. A data passava despercebida pelos familiares, como acontecimento sem nenhuma importância.
    A brincadeira ficava por conta dos casamentos que, geralmente, eram comemorados com três dias de dança e muita comida, bastante prosa e às vezes davam origem a outros noivados. Afora isso, os jovens se divertiam caçando preás e armando arapucas para o aprisionamento de inofensivas rolinhas. (...)
    Minha meninice foi toda assim, carregada de espinhos e de histórias de lobisomem, almas penadas e de bandidos, contadas à boquinha da noite...”

    “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”, como define Euclides da Cunha, em “Os Sertões”. Entretanto, o garoto Felipe seria bem mais forte que os seus pares ao vencer as dificuldades e empecilhos da vida sertaneja. Ferreira Gullar, o maior poeta brasileiro vivo, indaga: “em solo humano/ o nome é lançado/ (ou cai/ do acaso)”. À luz da reflexão profunda: como um sujeito oriundo de um Brasil miserável e esquecido transforma-se em um grande educador reconhecido internacionalmente; recebe títulos, diplomas, distinções, homenagens de reconhecimento, etc.; constrói mais de duas mil escolas; é fotografado ladeado de presidentes da República e importantes autoridades do Brasil e do mundo; faz uma obra presente em diversos campos sociais; torna-se Conselheiro Federal de Educação; consagra-se por ser o fundador da maior instituição filantrópica das Américas. Qual a explicação? Decerto gênio nasce em todo e qualquer lugar. Felizmente, Felipe Tiago Gomes é brasileiro, ou mais precisamente, é picuiense. Com a palavra o próprio Dr. Felipe: “Minha terra é a mais bonita do mundo, porque é a minha terra”. Ou nos versos do poeta popular e picuiense Antonio Henriques Neto, no poema “Neste Picuí Sertanejo Celeiro dos Minerais”.
       
“Berço do comendador / Felipe Tiago Gomes
 um dos consagrados nomes / em termos de educador
reconhecido benfeitor / dos setores culturais
que ao vencer seus ideais / satisfaz o seu desejo
neste Picuí sertanejo / celeiro dos minerais.”   
   
    Em 1928 as primeiras letras recebidas da irmã Francisca que havia concluído o curso primário na cidade. Depois as aulas na escolinha de dona Maria Nativa, a primeira professora, ainda na zona rural. Em 1951, o programa Honra ao Mérito, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, homenageou Dr. Felipe com o texto “Felipe Tiago Gomes, o Cruzado do ensino” e conferiu a medalha de ouro como prova de reconhecimento público pelos serviços prestados à comunidade, em que no primeiro parágrafo se dramatiza a infância do professor:

“Pés descalços, abraçando um livro velho, envergando uma roupa de brim branco, o menino pisa a poeira quente da estrada, rumo à escola distante. Todos os dias ele faz o mesmo trajeto. Sai de casa muito cedo, para evitar o sol abrasador e para conseguir cobrir as duas léguas que o separam da escola, em tempo de assistir às aulas. Mas o sacrifício da longa caminhada de ida e volta não desanima o rapazinho. Ao regressar, vem sempre satisfeito com os novos ensinamentos recebidos. Vem sorrindo, como um pequeno herói que tem nas veias aquele sangue bravo dos homens que Euclides da Cunha descreve em “Os Sertões”. Essa foi a infância de Felipe Tiago Gomes. Completamente despida do conforto que a vida só oferece aos meninos das cidades, mas cheia de esperanças, como só os que sofrem sabem sentir.”

    Entre 1933 e 1935, o garoto Felipe estuda na escola pública de Picuí o curso primário. O professor Manoel Pereira do Nascimento ao observar aquele jovem prodígio com talento voltado para os estudos aconselhou, insistentemente, o pai Elias de que seria fundamental para o talentoso Felipe estudar em Campina Grande, no Pio XI. Em “Escolas da Comunidade”, Dr. Felipe conta como foi sua saída de casa e todo o processo no colégio.

“A minha saída de casa foi dramática, pois era o caçula e se não fosse o incentivo de minha mãe e irmãs, eu não teria deixado o Sítio Barra do Pedro. (...)
Fiz o exame de admissão, tirei o quinto lugar. Grande vitória para quem vinha do interior com um curso primário, interrompido várias vezes pelas secas e distância da escola. Fiquei triste nos primeiros dias de colégio, distante de meu mundo, naquele ambiente bem diferente, ao lado de colegas desembaraçados, filhos de fazendeiros e de comerciantes bem sucedidos. (...)
A volta à minha terra foi nas férias de São João (junho). Com orgulho, eu ostentava a farda que vestia e senti que era admirado pelo povo! Ao final do ano, Padre Odilon Alves Pedrosa, meu bom amigo, perguntou-me se eu voltaria no ano seguinte. Respondi-lhe, com uma ponta de tristeza, que não, porque meu pai não dispunha de recursos para enfrentar as despesas do internato. A resposta foi imediata: “ Você é um jovem de juízo. Venha me ajudar a tomar conta dos menores”. Feliz, voltei no ano seguinte e assumi o posto, convicto de que era “autoridade” e tinha uma missão a cumprir. Mal sabia que a carga era pesada, com meninos indisciplinados (...) oriundos do alto sertão da Paraíba e do Rio Grande do Norte.”


    Funda e preside o Grêmio Líbero Cultural Humberto de Campos em Picuí, em 1938, esse foi o primeiro passo cultural trazido por Dr. Felipe à sua terra natal. Em 1940, conclui o curso ginasial. No mesmo ano, também ocorre, infelizmente, o falecimento de sua mãe. Então, qual destino seguir?

“Ao término do ginásio, fui abalado com a morte de minha mãe. Para colação de grau, festa importante, não tive gosto nem roupa. Triste, voltei a Picuí, certo de que não teria condições de continuar os estudos por falta de recursos. Minha vontade era fazer Direito, que só existia no Recife. Emprego, nem sonhando. O que existia como possibilidade era a volta à lavoura, viver no tormento da vida de agricultor, seguir meus antepassados, agora mais pobres ainda, pela perda de minha mãe, grande lutadora. Deus, porém, ouviu-me as súplicas e tocou o coração do Juiz de Direito Dr. José Saldanha, que sentindo minha aflição, falou com o Dr. Morais, dentista com parentes no Recife. E lá fui eu, depois da coleta de algum dinheiro entre parentes.
No Recife, fiquei hospedado na casa do Dr. Morais, bem arrumada e de gosto aristocrático, com toalhas finas e louça portuguesa deixando-me encabulado, pois não estava acostumado  com ambiente assim (...)
Quando o Dr. Morais voltou a Picuí, senti-me como um estranho na casa e passei a “almoçar” com outros amigos, andando nas ruas e comendo bananas, sentado em bancos de praças, sem saber o que fazer. Mais uma vez a sorte veio ao meu encontro: Everardo Luna, colega de Campina Grande, convidou-me para morar na Casa do Estudante de Pernambuco. Foi um alívio!”

    A chegada à Casa do Estudante de Pernambuco foi crucial para sua vida. Inicialmente, trabalhando naquela instituição como porteiro e, logo em seguida, bibliotecário. No Ginásio Pernambucano matricula-se mediante apresentação de um atestado de pobreza, porque não podia pagar a taxa de matrícula. Dr. Felipe fala como foi aquele momento:

“Convivendo com colegas pobres, percebi que não estava sozinho na luta. Passei a sentir a beleza da vida e a solidariedade humana ao encontrar outros moços iguais a mim, dispostos a vencer dificuldades. Eu não ia a cinema nem a festas. Estudava bastante e até mesmo cheguei a fazer versos, atividade em que, aliás, fracassei, por falta de talento. Matriculado na primeira série do curso pré-jurídico, andava a pé da Casa do Estudante até o Ginásio Pernambucano (...)
Na época o Recife vivia às escuras, num rígido blecaute, pois estávamos em plena Segunda Guerra Mundial. (...) A alimentação na Casa do Estudante era fraca e com o clima de guerra, piorou. Dormia cedo para enganar o estômago até o café da manhã: um pão ou pedaço de macaxeira e café. Eu era tão magro que meu tio, Pedro Marçal, ao visitar-me, pensou que eu estivesse tuberculoso. Minha felicidade era poder ir aos domingos, feriados e dias santos, á casa de “tia” Toinha Gomes, “filar” a refeição, onde havia um ambiente familiar, na convivência de “primos” e de outras pessoas da família”

    Guimarães Rosa resume, no genial “Grande Sertão: Veredas”, à sua maneira a vida, os seus cotidiano e propósito: “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.” Portanto, o jovem Felipe foi à luta.

“Enclausurado na Casa, um mundo novo se abria, bem diferente daquele em que me acostumara a viver, até então. Recife era a terceira cidade do Brasil, capital cultural do Nordeste! Com a minha passagem pela biblioteca, e com maior responsabilidade na sua administração, sentindo que milhares de jovens, pobres como eu sem o direito de estudar, posto que não havia escola pública, resolvi, por inspiração divina e influência de Haya de La Torre, do Peru, criar a Campanha do Ginasiano Pobre — CGP, hoje Campanha Nacional das Escolas da Comunidade — CNEC”.

    A criação da CNEC é interessante, pois foi a partir de uma leitura epifânica do livro de John Gunther, “O Drama da América Latina”, escrito após o autor percorrer vinte países latino-americanos. René Descartes, filósofo francês do século XVII, afirma em “Discurso do Método”: “A leitura de todos os bons livros é como uma conversa com os melhores espíritos dos séculos passados, que foram seus autores, e até uma conversa estudada do que eles nos descobrem seus melhores pensamentos” e “Quando uma leitura vos eleva o espírito e vos inspira sentimentos nobres ou corajosos, não procureis outra regra para julgar a obra; é boa e feita por mão de artesão”, declara o francês Jean de La Bruyère, em “Os Caracteres”. Era o ano de 1943, e ainda secundarista Felipe depois ter lido o capítulo XIV, “O que o Peru é e o que o Peru quer ser”, no subtítulo “Haya de La Torre”, tem uma ideia para a educação dos pobres, fundar ginásios gratuitos com professores lecionando gratuitamente. Eis alguns trechos da obra-prima do estadunidense John Gunther que inspirou Dr. Felipe.  

“Estive três vezes com Haya de La Torre. E em cada uma dessas vezes me pareceu estar em presença de um dos personagens mais singulares da América. (...)
Haya de La Torre parece exatamente o que é: descendente, em linha direta, dos conquistadores. Homem de cor citrina, espáduas amplas e fortes, estatura mediana. Os cabelos, negros como o azeviche, caem-lhe ondulantes sobre as orelhas. Nariz pronunciadamente aquilino. Olhos cor de azeitona. Haya de La Torre é dotado de um vivo sentido da realidade política, assim como de bom humor. Fala inglês como um inglês.
Vitor Raul Haya de La Torre nasceu a 22 de fevereiro de 1896, em Trujillo, ao norte do Peru, uma das poucas cidades do país que tem nome espanhol, e não indígena. O dia de seu nascimento é o mesmo do de George Washington, o que lhe agrada, o mesmo sucedendo com o fato de ter como apelido materno o nome Cárdenas, porquanto nutre grande admiração pelo ex-presidente mexicano. O pai jornalista, um tio sacerdote. Haya de La Torre criou-se num ambiente sumamente burguês, católico e respeitável.
Na adolescência leu obras de Unamuno e de Nietzche, aprendeu francês e alemão, estudou piano e escalou montanhas por esporte. (...) Mais tarde, quando ainda não havia completado 25 anos, sucederam-lhe três fatos que jamais pôde esquecer. O primeiro foi a visita a Cuzco, a antiga capital dos Incas. O jovem Haya de La Torre recebeu uma viva impressão provocada não propriamente pelas ruínas, mas pela visão do que haviam construído aqueles mesmos índios cujos descendentes eram oprimidos, açoitados e explorados. (...)
O segundo acontecimento se verificou por ocasião de sua visita à Universidade de Córdoba, na Argentina, onde testemunhou a efervescência social e política, “La Revolución espiritual”, como ele próprio chama, que se operava entre os estudantes daquela época. A maior parte das velhas universidades, a exemplo da de São Marcos, em Lima, eram catedrais da reação ou, segundo diz Haya de La Torre em uma de suas frases, “virreinatos del espíritu”. Córdoba era diferente. Os jovens estavam se emancipado da tradição católica européia, e procuravam pensar de acordo com Buenos Aires e não com Paris. “Em Córdoba, por volta de 1919, compreendi a decadência da Europa”, escreve ele. A “Reforma” nacionalista de Córdoba se propagou pelo norte, e, no exterior, estendeu-se ao Chile e ao Peru. Haya de La Torre foi a enorme influência da Revolução mexicana. Que avançava impetuosa. O México demonstrou-lhe algo de positivo, isto é, um movimento social que se propunha libertar os camponeses. (...) Haya de La Torre considerava os políticos como criaturas atrofiadas, observando: “Todos os velhos eram demasiadamente velhos”.
“Naquele dias — declarou-me — eu só estava certo de duas coisas. Primeiro: Córdoba era minha mãe e o México meu pai. Segundo: os americanos necessitavam de união e todos nós devíamos ser diferentes da Europa”.
Até 1919 ou 1920, mais ou menos, Haya de La Torre não tinha a intenção de ser político. Opunha-se a todos os políticos e o seu desejo era apenas observar e estudar. Mas as contingências o impeliram a uma vida de ação. Em 1921 fundou em Lima as Universidades Populares, onde os estudantes, à noite, davam instrução gratuita aos que eram demasiado pobres para assistir os cursos regulares. Seu lema era “Viva a Cultura! Viva a Escola!”. Num ano, Haya de La Torre teve 30.000 simpatizantes e em dois anos levou às ruas 60.000 jovens. Nessa época estava pelos 25 anos de idade.”

    Um dos fundadores da CNEC, Alcides Rodrigues de Sena, em seu livro autobiográfico, “Um Pouco de Mim e Muito dos Outros”, relata através da primeira ata, a fundação da Campanha do Ginasiano Pobre, a primeira reunião convocada por Felipe.

“1º Relatório: Às 9 horas do dia 29 de julho de 1943, no terraço do 2º andar da Casa do Estudante de Pernambuco, situada no Derby, bairro residencial da cidade do Recife, sete rapazes se reuniram para cogitar e deliberar sobre a fundação de um curso ginasial para o moço pobre.
Movimento de idealismo sadio e único, talvez, nos anais de nossa história, pensando na posteridade e considerando que os nomes desses sete jovens, talvez, um dia, recebam das gerações vindouras, ou o escárnio da crítica pelos erros cometidos, ou o elogio merecido pela audácia e concepção de tão grande e altruística idéia. Julguei que tais nomes, ou seja, os nomes desses sete moços deviam ser transcritos.
E sendo assim, transcrevo-os:
Carlos Luís de Andrade, estudante, aluno do 2º ano do pré-jurídico do Colégio Estadual de Pernambuco.
Alcides Rodrigues de Sena, aluno do mesmo estabelecimento de ensino, do mesmo curso e ano.
Felipe Tiago Gomes, aluno do mesmo colégio, do curso e ano.
Joel Pontes, do 2º ano do pré-jurídico do Colégio Carneiro Leão.
Joel Rafael de Menezes, do mesmo curso e ano, do Colégio Oswaldo Cruz.
Everardo Luna, do 1º ano de Direito de nossa tradicional Faculdade.   
Eurico José Cadeng, oficial da reserva de nossas forças armadas e também aluno do 2º pré-jurídico.  
Com a palavra, os senhores Felipe Tiago Gomes e Carlos Luís de Andrade, que explicaram e justificaram o motivo e a finalidade da reunião. A mocidade não podia viver de braços cruzados diante dos graves e múltiplos problemas da Pátria. Uma grande nação não se faz, apenas, na política e na trincheira, com os sagazes atos dos diplomatas e os galões dourados dos generais.
Era necessário, ou se fazia mister, que todos pensassem no Brasil.
Não só os que estavam iluminados pelas luzes de ribalta: os dirigentes e governantes. Mas, também o espectador, o humilde, o operário, o estudante, o camponês, o moço em primeiro lugar, desde que a Pátria é como o facho de luz daquela festa grega, passando de mão em mão, do velho ao moço, do ancião ao jovem.”

    “Vale a pena sonhar a utopia, pois educação é um sonho possível”, dirá Paulo Freire. Estava fundada a Campanha do Ginasiano Pobre, CGP, primeiro núcleo da CNEC. A partir daí começava uma divulgação da campanha com apoio de pessoas (sobretudo intelectuais), de boletins, do teatro e imprensa local que sonhavam com o ensino público gratuito. O primeiro colégio foi o Castro Alves, no Recife, com prédio e carteiras emprestados, em que muitas vezes estudantes assistiam às aulas de pé. Em 1944, o utópico Felipe através dos exames vestibulares é aprovado para a Faculdade de Direito do Recife. Dr. Felipe confessa:

“Deslumbrado com o novo ambiente, parecia ouvir Castro Alves e Ruy Barbosa pelas salas e jardins. Os mestres, para mim, eram os melhores do mundo e as suas capas pretas davam um ar de muita seriedade e sabedoria. No segundo ano, fui escolhido representante da turma junto ao Diretório da Faculdade e, dois anos após, eleito seu Presidente e, no último ano, Presidente do Diretório Central dos Estudantes da Universidade de Pernambuco, quando criei o Teatro Universitário. Tanto o TEP, do qual faziam parte Ariano Suassuna, Hermilio Borba Filho, Joel Pontes, Severino Florêncio Teixeira, Aluisio Magalhães e outros, como TU, marcaram presença na vida cultural de Pernambuco.”

    Em 1945 no contexto político nacional, os alicerces da Ditadura do Estado Novo foram abalados com a entrevista do paraibano José Américo de Almeida concedida ao jornalista Carlos Lacerda, no “Correio da Manhã” de 22 de fevereiro de 1945, não obstante à censura. Uma onda de democracia rondava o mundo com a fragilidade das ditaduras na Europa (na Alemanha e na Itália), durante a Segunda Guerra Mundial, chegando assim ao Brasil. A repercussão da entrevista foi imediata ao levar às ruas do país estudantes universitários favoráveis à queda de Getúlio Vargas, no poder desde a Revolução de 30. No Recife em meio aos protestos a polícia matou o estudante Demócrito de Sousa Filho. Isso levou o universitário Felipe a filiar-se na União Democrática Nacional (UDN), principal partido de oposição ao Governo liderado por Carlos Lacerda. Em Picuí, foi criado pelo udenista Felipe um núcleo de resistência formado por jovens na sua maioria. Nesse ano, o partidário Felipe passou quase todo em Picuí, promovendo comícios e fazendo novos eleitores. Em 1947, o Governador Oswaldo Trigueiro nomeou o mais jovem prefeito do Estado da Paraíba, Dr. Felipe Tiago Gomes, para a prefeitura do município de Picuí, cargo este que ele ocupou durante o período de nove meses. Concluído o mandato articulou-se por liderança de Dr. Felipe uma chapa única para as eleições municipais através do consenso entre as forças políticas locais.
    Há um episódio interessante que não pode jamais passar despercebido quando contada a obravida de Dr. Felipe: um embate verbal com o jornalista Mário Melo, em que a disputa era em torno da naturalidade do Sargento Silvino de Macedo, o revoltoso que combateu o presidente Floriano Peixoto, resultando em seu fuzilamento sumário no Campo de Imbiribeira, no Recife. Dr. Felipe venceu a disputa ao provar com a certidão de batismo sua naturalidade. Resultou no livro, em 1984, “Sargento Silvino de Macedo, Herói Picuiense”, de sua autoria.
    Ainda em 1944, durante os dias 15 e 21 de abril, em Pernambuco era realizada a primeira Semana de Cultura Nacional pela CGP, numa demonstração de audácia por parte do idealista Felipe, foi convidado o célebre escritor potiguar Luís da Câmara Cascudo que, por ocasião de compromissos anteriormente assumidos, não pôde participar deste evento, enviou a seguinte nota de esclarecimento de sua ausência e de aplauso à campanha educacional:

“Todos os elementos da Campanha pelo Ginasiano Pobre determinam uma viva simpatia de quem os vá conhecendo. Não me sendo possível negar obediência ou adiar a execução da ordem que recebi, lamento minha ausência do vosso lado na ‘Semana de Cultura Nacional’, não apenas como orador e participante no programa, mas como assistente e admirador natural da ‘Campanha’ sedutora e moça, de comunicante entusiasmo.”

    1945. Felipe Tiago Gomes, Genivaldo Vanderley e Juarez Gomes Lopes viajavam ao Rio de Janeiro em busca de recursos e afirmação oficial para a campanha. As passagens aéreas foram conseguidas com o Brigadeiro Eduardo Gomes, no Recife. No Rio, sem dinheiro suficiente, passou por dificuldades de alimentação e hospedagem. O que conseguiram de mais expressivo foi uma notícia publicada no jornal “O Globo”, em que se falava das atividades da comissão.
    O repórter Nahum Sirotsky os chamou de “Os Três Mosquiteiros”. A volta ao Recife foi confirmada por um chefe de gabinete ministerial, Cel. Henrique Fleiuss, pela Força Aérea Brasileira (FAB). Esse ano é marcado também pela segunda Semana de Cultura com a presença do escritor e sociólogo Gilberto Freire.  
    No ano seguinte, 1946, são realizados os primeiros exames oficiais da campanha reconhecidos pelo MEC e uma segunda viagem ao Rio de Janeiro. E a nova mudança de nome para Campanha dos Ginásios Populares e a terceira Semana da Cultura, com grande sucesso. Haveria mais uma mudança de nome, à época, o Partido Comunista estava no auge, e o nome da campanha soava socialista demais. A solução foi Campanha dos Educandários Gratuitos.
    A campanha crescia com o apoio de autoridades e mesmo de pessoas simples que ajudavam como podiam a difundir o ideal filipista, embora com muitas dificuldades. Após o mandato de prefeito, Dr. Felipe se entrega de corpo e alma à continuação do curso superior e à campanha, começando aí uma nova fase: “A difusão da campanha pelos Estados”. Iniciava-se um périplo pelo país, inicialmente no Pará e, logo em seguida, no Amazonas, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo, sempre com divulgação, respectivamente, da imprensa local; apoio dos chefes de Estado (salvo algumas exceções) e ganho de novos adeptos onde passasse. O ano de 1948 foi muito produtivo para a campanha, quando também da realização do I Congresso Ordinário, de 17 a 22 de dezembro, no Recife. Na ocasião houve a votação do primeiro estatuto e conferido âmbito nacional à organização, com sede na capital pernambucana. Constituindo-se dos seguintes órgãos: Congresso Nacional, Diretoria Nacional e Conselho Fiscal Nacional. E a nova denominação de Campanha Nacional de Educandários Gratuitos — CNEG. Ano também em que Felipe Tiago Gomes obtém o título de Bacharel em Direito, tendo colado grau com roupa emprestada. Vem a Picuí e recebe homenagens dos seus conterrâneos por ter conseguido uma formação rara de um curso superior. Porém, Dr. Felipe recém formado em Direito não sabia muito bem que caminho seguir, temendo a falta de proteção de poderosos no Pernambuco ou na Paraíba para com ele, não havia alternativas de trabalho, então resolve ir para o Rio de Janeiro mediante promessa de emprego, não cumprida. Um período complicado em que sem dinheiro para suprir necessidades básicas, recorre a deputados que o ajudam como podem com auxílios financeiros, é aí que funda a CNEG no Estado fluminense. Aos poucos as coisas iam tomando lugar e melhorando gradativamente. 1949 é o ano dos primeiros ginásios, a começar por João Pessoa, Curitiba, Coari-AM e Niterói. O apoio financeiro do poder legislativo surgia forte, a imprensa sempre fundamental a divulgar as propostas elementares da campanha, tendo até o apoio do jornal “O Globo”, do jornalista Roberto Marinho. O paraibano Assis Chateaubriand era quem dominava a imprensa da época na liderança dos “Diários Associados”, ao ser procurado por Dr. Felipe que no intuito de falar da campanha e ser ajudado foi, infelizmente, ridicularizado: “Você é o Antonio Conselheiro do ensino! Apareça, rapaz!”. O jornalista Austregésilo de Athayde, um dos maiores nomes da ABL em sua história, publicou uma crônica em a “Rede Associada”, de 3 de junho de 1949, um excelente texto:

“Vejo na Campanha dos Educandários Gratuitos um meio de se moralizar o ensino secundário no Brasil.
Qual é a grande causa das aprovações escandalosas que levam aos cursos universitários que não possuem as habilitações requeridas para fazê-lo? O constrangimento dos professores em obrigar os alunos a repetir o ano. Isso contraria os donos dos colégios, porque os pais dos meninos reprovados atribuem a culpa ao estabelecimento e preferem retirar deles os filhos.
O que devia ser motivo de prestígio pra uma casa de ensino converte-se em prejuízo econômico.
As famílias não gostam de colocar os filhos em ginásios conhecidos pela energia dos professores. Acham melhor matriculá-los em educandários onde aprovação seja garantida.
Pura questão econômica. Repetir o ano significa despesas dobradas, e ninguém hoje está em condições de suportá-las.
No dia em que o ensino for inteiramente gratuito em todos os seus graus (...) será muito mais fácil resolver o problema da sua eficiência e moralização.
Os professores serão mais exigentes e os pais, não havendo que pagar, terão mais gosto em que os filhos aprendam de verdade e não somente passem da classe.
Eis o que, antes de tudo, me leva a aplaudir com entusiasmo a Campanha dos Educandários Gratuitos, a que não pode faltar o apoio de quem se interesse pelo destino da cultura no Brasil.” 

    Com a movimentação realizada na Câmara dos Deputados e Senado Federal, a imprensa despertou para o problema. Crônicas, artigos e editoriais foram publicados. Rubem Braga, o único cronista que entrou para a história da literatura brasileira como tal, escreveu uma belíssima crônica carregada de verdade e de sentimento: “Os Milionários”, que foi publicada no “Diário da Noite” (Recife-PE) de 13 de julho de 1949.

“Não conheço esse rapaz do Recife, chamado Felipe Tiago Gomes, que meteu na cabeça a ideia de que é preciso democratizar o ensino no Brasil. E que escolheu como tarefa sua e de seus companheiros fundar ginásios gratuitos, e já pôs a funcionar cinco — no Amazonas, em Pernambuco, Paraíba, Paraná e Estado do Rio.
Essa Campanha Nacional dos Educandários Gratuitos propõe-se a fundar, em todo o país, 68 ginásios. Sua ambição inicial é proporcionar a um número maior de pessoas os quatro primeiros anos do curso secundário; ainda não pode pensar no que fazer quando chegar o momento de seus estudantes se encontrarem na encruzilhada entre o clássico e o científico. (...) Minha bela Cachoeiro do Itapemirim contará, o mês que vem, com seu ginásio noturno, que virá abrir as novas perspectivas aos jovens trabalhadores do Estado e do município a que a professora Zilma Coelho Pinto, fundando em 25 cursos, deu um impulso tão belo e generoso.
Há, nas camadas pobres de nossa população — e ainda outro dia citei um exemplo disto — uma verdadeira sede de aprender. As razões principais serão, certamente, de ordem econômica. São também elas as que merecem, em primeiro lugar, atenção, em um país que está em uma fase desenvolvimento econômico em que precisa contar com um número cada vez maior de trabalhadores de certo nível cultural.
Os homens “práticos” ou “realistas”, que ainda nos pregam as vantagens do analfabetismo popular, são flores murchas do “espírito” de uma sociedade que já não existe. Seus paradoxos fáceis ou cínicos perdem qualquer valor diante desse irresistível impulso das novas gerações pra escalar níveis melhores de vida cultural (...)
(...) Muitos parlamentares talvez nunca tenham ouvido falar desse movimento. Pois procurem conhecê-lo.
É evidente que cabe ao Estado, incapaz de realizar por si próprio a obra enorme de educação que se faz necessária, ajudar, concretamente, com as reservas e precauções indispensáveis, mas de maneira positiva, os movimentos desse tipo.
Esses movimentos mostram que ainda há, neste País, muito impulso generoso que não recua da espantosa mediocridade de tantos setores de nossa vida pública. Há gente querendo tocar esta joça para a frente. Gente que sonha e “mete os peitos”, e se chateia horrivelmente, e chateia todo mundo e realiza. É gente pobre, como esse Felipe do Recife e aquela Zima de Cachoeiro. Gente pobre, milionária de humanidade.”   

    No segundo semestre de 1949, Dr. Felipe foi aos Estados de Mato Grosso e Goiás. Também foram criadas novas Diretórias Municipais da entidade em algumas cidades do interior do Brasil, e é o ano dos primeiros projetos de lei em benefício da instituição. No ano seguinte, o governo federal disponibilizou duzentos mil cruzeiros para a campanha, com esse auxílio iniciou-se a colaboração financeira da União que duraria muitos anos. 1950, também marca a Integração de Dr. Felipe da Campanha de Erradicação do Analfabetismo no Rio de Janeiro.
    Em 1951 Dr. Felipe organiza o Movimento Popular de Alfabetização no Rio de Janeiro, visita o Ministro da Educação e na companhia de parlamentares esteve no gabinete do vice-presidente da República. Através de incentivos financeiros partidos do poder Legislativo, a campanha ganhava contornos cada vez maiores para se firmar no ensino público nacional. A sede da CNEG é conseguida no Rio de Janeiro, em 1952. No ano seguinte marcava-se o décimo aniversário, 1953 é de êxito com a funcionalidade da campanha correndo muito bem. A década de 1950 é intensa para Dr. Felipe, seja como colaborador do Movimento Cívico Contar o Analfabetismo no Espírito Santo, diretor do Departamento de Ensino Médio da Secretaria de Educação do Rio de Janeiro e membro Diretor da Associação Brasileira de Educação ou como líder da campanha. A revista “O Cruzeiro” de circulação nacional, publicava em 10/02/1962, na coluna “Última Página”, da escritora cearense e imortal Rachel de Queiroz, a crônica “O Sonho do Professor Felipe”.

“Uma das entidades mais sérias deste país é atualmente a Campanha Nacional de Educandários Gratuitos, reconhecida de utilidade pública por decreto do Governo, com sede na capital da República e ação em todo o território nacional. Segundo diz nos estatutos, a Campanha (que usa a sigla CNEG), “inspirada nos princípios cristãos da solidariedade humana e tendo em vista que a educação nacional exige convergência de ação das forças vivas do país”, visa, como principal finalidade, a fundar e manter educandários gratuitos no território nacional, e, de modo geral, contribuir para o progresso da causa do ensino no País. Não admite discriminações religiosas, raciais e econômicas, aceita o apoio do poder público, mas principalmente apela para a iniciativa particular como elemento primordial de suas realizações.
Dito isso, explica-se agora que a CNEG é vitoriosa em toda a linha. Mantém, pelo Brasil afora, cerca de quinhentos ginásios funcionando regularmente (...)
Acham as pessoas de bom senso que elas são as molas do Mundo, que triste a humanidade se não tivesse a governá-la a moderação, o equilíbrio dos sensatos e — perdão! — a sua mediocridade.
Entretanto, a experiência ensina o contrário: são antes os loucos, os fantasistas, os sonhadores que fazem o Mundo andar para a frente. Se ao primeiro macaco não lhe desse uma coisa e não resolvesse caminhar pelo chão erguido nos dois pés, talvez ainda vivêssemos trepados em árvores. E, depois, se os outros doidos — Aristóteles e Galileu, e Copérnico, e Colombo, e Gutenberg e Stephenson, Santos Dummont, Pasteur, Bell, Edson, os Curie, Marconi e tantos outros não se houvessem entregue cegamente cada um ao seu ramo especial de loucura — que civilização teríamos. O bom senso é ótimo, mas para conservar os doidos criam. O bom senso quer a estabilidade, a segurança — e o progresso é o contrário da estabilidade.
Penso nisso ao ler o tal livrinho escrito pelo professor Felipe Tiago Gomes — que é em pessoa, o inventor, o pai, a própria alma da CNEG.
 (...)”

    1960 é o decênio da agitação política em todo o mundo, inclusive no Brasil, com o populismo de João Goulart — O Jango — em alta por causa das Reformas de Base, uma afronta ‘comunista’ à elite do país.  O período que corresponde entre 1964 a 1985 é arbitrário, pois é do Regime Militar no Brasil. Dr. Felipe quase era preso por militares que consideraram a CNEG como subversiva, não foi detido por intervenção do Almirante Benjamim Sodré que enxergou uma entidade suprapartidária em prol do ensino gratuito no país, de cunho altamente filantrópico. A campanha teve que se adaptar ao regime para continuar no que se destinava, passando enfim a se chamar Campanha Nacional de Escolas da Comunidade — CNEC. É o período da história cenecista de maior êxito, do ápice e do crescimento pleno. A CNEC agia como facilitadora do ensino e o Governo a subsidiava com capital e no que precisasse, também sendo beneficiada pelo acordo USAID-MEC. Os números mostram clara e incontestavelmente os fatos, a estatística da CNEC é contundente.


ANO                    MUNICÍPIOS          ESCOLAS      PROFESSORES            ALUNOS
1964                             545                        707                       —                             97.514
1965                             598                        758                       —                          122.341
1966                                 —                         792                        —                      141.417
1967                                 —                         835                        —                      178.245
1968                             776                        973                    12.221        202.375
1969                             831                       1.084                  13.919        231.134
1970                             993                       1.234                  14.057        273.499
1971                             934                       1.291                  16.065        310.278
1972                             913                       1.248                  16.658        309.982
1973                              908                        1.250                  16.909        308.208
1974                              933                        1.282                  17.302        342.000
1975                              952                        1.332                  18.104        368.289
1976                              977                        1.295                  20.840        372.464
1977                              985                        1.322                  21.873        405.317
1978                              997                         1.305                 22.444        420.743   
1979                             1.008                       1.315                 21.976        427.300   
1980                             1.004                       1.305                 21.726        426.093   
1981                                995                       1.281                 22.482        439.524   
1982                             1.010                       1.315                 23.136                     445.004
1983                             1.016                       1.346                 24.566                     474.380                 

   
       Dr. Felipe fala sobre o período: “Passamos incólumes pela Revolução de 1964 e pelo AI-5 de 1968, quando andamos perto de intervenção urdida por ambiciosos que desejavam apoderar-se da Organização.”
      Na reedição de “Município de Picuí (Esboço Histórico)”, de Abílio César de Oliveira, de 1981, pela “CNEC Edições”, Dr. Felipe é coerente ao prefaciar:

“O homem, por mais mundo que ande, estará sempre com o espírito voltado para as suas origens geográficas. No meu caso, não só o espírito se fez presente no Picuí. Não era, portanto, de surpreender-me um livro sobre a minha terra natal, vez que com ela tenho mantido sempre uma estreitíssima relação pessoal, tanto pelo fato de ser o berço natural do meu nascimento, como por força das atividades na Superintendência da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade.”
   
    A CNEC veio para Picuí em 1959, força de Dr. Felipe e da professora Maria de Lourdes Henriques que a trouxeram. O Colégio Comercial 5 de Agosto é primeiro da entidade cenecista que ao longo dos anos preencheu uma lacuna cultural do município, não apenas oferecendo o ensino, mas também cursos técnicos, obras estruturantes, etc. O escritor e imortal Arnaldo Niskier pôde observar isso numa vinda a Picuí, convidado por Dr. Felipe, e relatado na crônica “A República de Picuí”.

“...percorremos o Brasil na obra cenecista de Felipe Tiago Gomes, desde o seu nascer, em 1943, até os tempos atuais, quando a  CNEC diversifica o seu leque de atuações, levando, pelas avenidas da virada do século, o desenvolvimento comunitário aos mais diversos recantos da Pátria.
Felipe Tiago Gomes é uma dessas criaturas que a gente pensa não existirem mais. Dedicou toda sua vida a uma obra benemérita, hoje reconhecida internacionalmente. (...) Pelos bancos escolares da CNEC passaram milhões de alunos, muitos deles brilhando nos vários segmentos da sociedade. Felipe casou-se com a CNEC e a ela é inteiramente fiel, a ponto mesmo de reverter todos os seus bens para a instituição.
Ao lado da CNEC, na Terra, só existe Picuí, cidade-modelo do seridó paraibano (...) Visitei a cidade natal de Felipe e nela encontrei o que o Brasil tem de melhor: o amor de seu povo, a hospitalidade, a bem-querença. Não é uma população muito grande. (...) pessoas que vivem uma notável experiência comunitária, inspirada nos exemplos ali plantados pela CNEC de Felipe Tiago Gomes.
O ambulatório, o hospital, o bairro cenecista com suas casinhas branquinhas, a rádio, a fazenda-Escola Elias Corrêa Gomes em área de 330 hectares, a escola comunitária com quase mil alunos, a lapidação de pedras semipreciosas e a montagem de joias, as creches, o estádio de futebol, o ginásio poliesportivo, o artesanato, a confecção, a serigrafia — tudo lembra, nas terras áridas do interior da Paraíba, que é possível melhorar as condições de vida da população, quando existe uma vontade política (...)” 
   
    Em 1989 pela primeira vez na história um presidente da República visitou Picuí, José Sarney, trazido por Dr. Felipe. Sarney que havia sido professor da CNEC no Maranhão pôde presenciar de perto as atividades desenvolvidas pela instituição e acompanhar inaugurações, ao lado de sua esposa Marly Sarney, à época Presidente do Conselho Nacional Cenecista. Sarney também recebeu o título de Cidadão Honorário, da Câmara Municipal de Picuí. Em entrevista ao programa do governo, “Conversa ao Pé do Rádio”, Sarney disse:

“Nesta semana, quarta-feira, estive em Picuí, na Paraíba. Ali presidi inaugurações de casas populares, construídas pelo sistema de mutirão, creches, escolas, açudes, estradas, fazenda-escola, feitas sob a coordenação da CNEC, essa entidade nascida e conservada pelo trabalho desse santo brasileiro que é Felipe Tiago Gomes. Foi uma viagem emocionante, onde o carinho do povo me ajudou a reviver lembranças. A Paraíba está inserida no meu mundo sentimental, pois a família dos meus avôs é da Paraíba.” 

    Com o fim do regime militar a CNEC não teve mais o apoio financeiro e logístico. Os governos seguintes, insensíveis à causa cenecista. Em 1993 comemorou-se meio século da CNEC. O Congresso Nacional homenageou com uma sessão solene os cinquenta anos cenecistas com discursos de parlamentares que fizeram parte da entidade como alunos ou como professores.  
    Dr. Felipe Tiago Gomes em discurso na Sessão Solene, de 1º de setembro de 1986, no Conselho Federal de Educação resumiu todo o sentimento ao longo da vida e na CNEC aos seus pares com modéstia e muita humildade.

“Se é verdade que ‘‘as coisas devem caber àqueles que sabem melhor”, segundo apreciação de Brecht, certamente não haveria muita razão para eu me sentar ao vosso lado.
(...)
Mas, senhores Conselheiros, se a natureza de Deus, quem me tem sido demasiado pródiga em matéria de convivência, nunca me possibilitou ultrapassar deficiências notórias, haverá de me permitir supri-las com a vontade de ajudar — o único talento deste lavrador nascido no longínquo Picuí, no pobre seridó paraibano.
Egresso da histórica Faculdade de Direito do Recife, e já tendo perdido os calos que a enxada faz nas mãos, ainda não me libertei dos calos psicológicos da seca, e nem consegui ser doutor de letras e de leis.
(...)
Sempre ajudar. Ajudar sempre.
Ajudar pela força do idealismo, que me fez engrossar fileiras com os mais fracos, desde os primeiros anos de juventude.
 Ajudar pela solidariedade humana, que carrega a lição mais elementar da criação: os homens são iguais. Paradoxalmente, os próprios homens teimam em se diferenciar.   
(...)
Ajudar pelo dever patriótico, que me transformou em construtor de escolas e peregrino dos quatro cantos do Brasil.
Ajudar pelo exercício de cidadania, que nos obriga em relação aos problemas brasileiros e nos torna responsáveis pela sorte da nação.
Ajudar pelo amor, que justifica o homem perante o seu semelhante e faz prova da existência de Deus.
(...)
Senhores Conselheiros,
Nas minhas andanças pelo Brasil pude recolher um punhado de lições desta gente simples e boa de nossa terra. Talvez seja o que de melhor possa oferecer a esta Casa (...)
Nunca fui um teórico da educação nem um planejador. Se tivesse me detido nessa tarefa, nenhuma escola teria nascido pelas minhas mãos.
Trago-vos uma educação natural do homem, o ser social, antítese da formação egoísta para a competição;
Trago-vos uma educação cooperativa, associativa, aglutinadora e integradora da sociedade, que evidencie a cada momento que os bens que Deus nos legou devem ter uma exploração que respeite a um só tempo as leis da natureza e o maior interesse social;
(...)
Trago-vos o soluço compungente da servente de nossa escola em Carabuçu, Rio de Janeiro, que vendo sua filha formar-se para o magistério, nos respondia com um abraço generoso e os olhos cheios de lágrima;
(...)
Trago-vos a palavra daquela simples, mas generosa mulher do povo de Paranã, Estado de Goiás, que vendo o auditório oferecendo bois e outras prendas para a construção da escola, dizia: “Eu só tenho a oferecer-lhes as minhas mãos que poderão lavar gratuitamente as roupas dos professores.”; 
Trago-vos a lembrança daquele saudoso companheiro de Juparaná, Rio de Janeiro, que hipotecou sua própria casa para que o prédio da escola pudesse ser acabado;
Trago-vos o exemplo daquele prefeito de Brusque, em Santa Catarina, que se misturou com os operários e pegou na colher de pedreiro para ajudar a levantar as paredes da escola;
(...)
Finalmente, trago-vos o sorriso de milhares de crianças humildes deste país, beneficiadas pela nossa escola e a alegria de milhares de brasileiros que hoje vitoriosos ocupam posições de destaque na vida política, econômica e social deste país e cujos primeiros passos foram dados na escola cenecista.
(...)
Quarenta e três anos. Quase meio século depois...
Quarenta e três anos em sessenta e cinco de vida. Sou contemporâneo do século que se finda provavelmente comigo (...) os séculos se renovam e eu só fui jovem para acompanhar um deles.
 (...)
Chego a vós pelas mãos de José Ribamar, a quem conheci quando ainda não lhe pesavam sobre os ombros as responsabilidades do sobrenome Sarney — o jovem idealista do Maranhão, que lecionava de graça nas escolas que fundei.
(...)
 Éramos estudantes pobres, beneficiários do teto e dos cômodos da Casa do Estudante, onde sobrava idealismo e faltava em tudo mais quanto necessário fosse ter.
Pouco a pouco, como quem não pressente que a vida passa, fui dando asas aos meus sonhos, e cheguei a um ponto em que esses sonhos já não me pertencem. Sou hoje infinitamente menor e menos importante do que meus próprios sonhos, até porque eles habitam outros seres, outras cabeças, outros corações.
Construí quase duas mil escolas? Não importa. Construí milhares de amigos, sem os quais meus sonhos estariam mortos.
Nesta hora, em que recebo tão singular, volto-me para os verdadeiros donos dela. Seria enfadonho citá-los nominalmente. Seria grave injustiça esquecê-los. Seria enorme alegria poder lembrá-los.
Quantos estejam agora aqui presentes, quantos estejam em nossas escolas, quantos gozem do recesso do lar, quantos alcancem as mais destacadas funções públicas ou as mais simples profissões dignas, e até mesmo quantos e felizmente poucos desassistidos pela sorte, tenham contribuído para que a nossa cruzada chegasse a tanto, rendo, agora, humildemente, a emoção sincera da minha gratidão. Ou melhor, devolvo a honra que me fizeram conquistar.
(...)
Sirvo-me disso tudo apenas para proclamar que a vida, não obstante dura, é providencial. A CNEC me convenceu de que o grande compromisso da vida é com o próximo.
Maria Gomes, minha única irmã, que fez de crochê a primeira Bandeira de nossa Campanha, e que enveredou pelos meus caminhos e palmilhou meus passos, deu-me a lição magistral: a obra do bem comum passa pela fraternidade, e dura mais do que quem a faz.
Talvez seja melhor parar por aqui. Um coração humano será tanto mais resistente quanto menos compromisso tiver para com as coisas e os seres que o cativam. O meu já se fragilizou, faz tempo.
(...)
Eu que andei tanto a pé para alcançar a primeira escola, que tanto viajei para completar os estudos, alcancei terras distantes levado em navio (...) em companhia de pobres mulheres e de homens bons e modestos (...) tornei-me um renitente na luta pelo ensino comunitário e gratuito, pela educação dos pobres.
Coincidência feliz: aqui não estarei só.
Muito obrigado.”
    
    Em 1995 a Organização dos Estados Americanos (OEA) conferiu ao professor Felipe Tiago Gomes distinção especial “por haber sido nominado para participar en este tradicional evento pedagógico y pasar a formar de lós más distinguidos educadores del hemisfério”, cujo prêmio “Andrés Bello”, à época, Dr. Felipe e Paulo Freire, os únicos brasileiros a conseguirem tal distinção honrosa.
    Vale salientar a personalidade histórica de Maria Gomes, a irmã e amiga de Dr. Felipe em todas as horas, que exerceu um papel precípuo dentro da CNEC.
    Uma década depois desse belo discurso ao Conselho Federal de Educação, Dr. Felipe vem a falecer em Brasília, vítima de complicações cardíacas, em 21 de setembro. O senador Guilherme Palmeira (PMDB-AL) foi à tribuna e fez uma belíssima homenagem, “Felipe Tiago Gomes: Exemplo de Uma Vida”, traduziu em palavras o sentimento cenecista de milhões de brasileiros que naquela data se sentiam órfãos. Num dado momento do discurso diz:

“Parlamentares de todas as legislaturas destes últimos cinquenta anos conviveram com esse visionário que, em sua eterna peregrinação pelos corredores do Congresso Nacional, tornou-se divulgador de uma ideia simples, mas generosa, capaz de esforços antes esparsos em favor do que ele transformou numa cruzada. Viveu e sofreu os percalços deste meio século de devotação e dedicação a essa nobre causa. E ninguém foi mais desprendido, antecipando profeticamente o que hoje o país inteiro reconhece como o maior desafio brasileiro de todas as épocas, a educação nacional. No discurso que proferiu na sessão em que o Congresso Nacional homenageou os cinquenta anos da CNEC, pudemos testemunhar com entusiasmo, com que carinho, com que espírito ele se entregou à causa que foi a razão de sua existência. (...)
Submetido a duas intervenções cirúrgicas para a implantação de pontes de safena, “bissafenado”, como ele mesmo se denominava, em nenhum momento esmoreceu na pregação dos ideais que lhe impulsionaram à vida e que deram sentido de grandeza a uma existência digna e gloriosa de ser vivida. Jamais esmoreceu. Lutou até a morte para não deixar fenecer a chama de sua própria obstinação. E nos apontou, num exemplo de humildade, o que tinha sido a sua existência, ao antecipar que nasceu pobre e mais pobre ainda morreria, pois com sua única irmã, tinha doado os dois únicos e modestos bens materiais que herdara da família, na sua Paraíba natal.
Sua obra foi sendo paulatina e progressivamente ampliada, já não mais para fundar escolas gratuitas apenas, produto do esforço de cada coletividade, mas para abranger também outros empreendimentos, sempre com a finalidade de preparar os jovens para a vida.
(...)
Se a vida do ser humano se mede pela extensão de sua obra, a de Felipe Tiago Gomes não tem limites. Pode ter fenecido a precária existência de um cidadão, mas não a frondosa teia de iniciativas que germinaram em solo que ele fertilizou.”

    E perorou agradecendo:

“Rendo, com o tributo de minha homenagem, o sentimento de minha gratidão, como cidadão, como homem público, como político e como ser humano. Ninguém mais do que ele merece o nosso respeito e a nossa reverência a uma vida inteiramente dedicada a seu país e a seus semelhantes.”

   















3.     CONCLUSÃO


Após o desenvolvimento da pesquisa, chegamos à conclusão de que a obra “felipista” foi fundamental para o ensino público no Brasil. A CNEC foi uma oportunidade para milhões de crianças carentes conseguirem crescer em sua vida profissional e cível.
    Os homens comuns pisam simplesmente as areias da vida sujeitando as próprias pegadas à inclemência dos ventos do deserto e ao silêncio irrevogável da morte. Os predestinados, porém, esses caminham sobre as lavas incandescentes da História e deixam rastros de fogo eternizando seus passos. São os pastores do destino. Felipe Tiago Gomes é um desses peregrinos dos caminhos em brasa viva. 

















REFERÊNCIAS


Gomes, Felipe Tiago. Escolas da Comunidade, 6ª edição. CNEC Edições. Brasília, 1989.

_________________CNEC: A Força de Um Ideal. CNEC Edições. Brasília, 1986.

GUNTHER, John. O Drama da América Latina. Ed. Irmãos Pogentti. Rio de Janeiro, 1942.

SENA, Alcides Rodrigues de. Um Pouco de Mim e Muito dos Outros, sem editora. Goiana, Pernambuco. 2001.

OLIVEIRA, Abílio César. Município de Picuí (Esboço Histórico). CNEC Edições. João Pessoa, 1981.

RÓNAI, Paulo. Dicionário Universal de Citações. Ed. Nova Fronteira. São Paulo, 2004.

Revista O Cruzeiro, 10/02/1962.

Revista A chama cenecista aquece o Brasil, dezembro de 1983.

CNEC em Revista, maio de 1989.

CNEC em Revista, julho/agosto/setembro de 1997.

Jornal A União (especial), março de 1996.

Panfleto do Senado Federal, homenagem do senador Guilherme Palmeira, Felipe Tiago Gomes: Exemplo de uma Vida.