MONOGRAFIA 2° LUGAR

CONCURSO DE MONOGRAFIAS SOBRE A VIDA E A OBRA DE FELIPE TIAGO GOMES


FELIPE TIAGO GOMES: O PICUIENSE DO SÉCULO

Joagny Augusto Costa Dantas (Um Picuiense)

Picuí - PB
2011
JOAGNY AUGUSTO COSTA DANTAS (UM PICUIENSE)


FELIPE TIAGO GOMES: O PICUIENSE DO SÉCULO


Monografia apresentada à Banca Examinadora do Concurso de Monografias sobre a vida e a obra de Felipe Tiago Gomes.


Picuí – PB
2011
AGRADECIMENTOS


    Agradeço, primeiramente, a Deus por ter me dado a oportunidade de, mesmo atarefado com minhas atribuições acadêmicas e profissionais, ter dado minha contribuição para o resgate da vida e obra do professor Felipe Tiago Gomes.
    Também agradeço à minha família pelo apoio que me concedeu durante a elaboração do presente trabalho. Ao mesmo também, faço um agradecimento à Comissão Julgadora pelo trabalho sério, justo e transparente que realizou ao longo da correção das monografias.
    Por fim, agradeço a todos os participantes, ao mesmo tempo em que os parabenizo por construírem brilhantes monografias, sendo todas dignas de estarem entre as vencedoras.



SUMÁRIO

RESUMO........................................................................................................................05
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................06
2. A INFÂNCIA.............................................................................................................08
3. A VIDA EM CAMPINA GRANDE E AS DIFICULDADES................................09
4. SURGE UMA NOVA OPORTUNIDADE..............................................................10
5. O HOMEM PÚBLICO.............................................................................................12
6. O SONHO SE TORNA REALIDADE: SURGE A CNEC....................................13
7. O RETORNO E AS CONTRIBUIÇÕES A PICUÍ................................................15
8. O ADEUS....................................................................................................................16
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS (FELIPE VIVE!).....................................................18
   REFERÊNCIAS..........................................................................................................19
   SOBRE O AUTOR.....................................................................................................20


RESUMO


Em 21 de setembro de 1996, falecia em Brasília-DF o homem que mais fez por Picuí em toda sua história: Felipe Tiago Gomes. Filho de agricultores e oriundo da zona rural, ele é um exemplo de paraibano sertanejo que lutou e enfrentou diversas barreiras a fim de atingir seus sonhos através da educação. Resgatar a memória deste picuiense do século é relembrar a vida vitoriosa de um nordestino, mas também observar que a educação remove montanhas. O presente trabalho visa analisar a vida do professor Felipe Tiago Gomes de uma forma objetiva e emocionante. Separada em capítulos, sendo estes iniciados por trechos de músicas, a monografia tem como objetivo resgatar, de forma cronológica, uma era de ouro para a educação brasileira e para o desenvolvimento de Picuí. Ao mesmo tempo, faz relações com o momento histórico que o Brasil vivenciou ao longo do século XX. Enfim, é um texto que pretende manter viva a lembrança de um dos maiores nomes da educação brasileira que construiu uma nova forma do saber baseada na humildade, na cooperação e na solidariedade.


Palavras-Chave: Felipe Tiago Gomes. Vida. Educação.


1.    INTRODUÇÃO


Picuí, 15 de janeiro de 2011.     Às 16:00 h, desponta na Rua 24 de novembro um cortejo acompanhado pela Filarmônica Coronel Antônio Xavier, pela BAMFAC (Banda Marcial da CNEC), por diversas autoridades cenecistas, pelo Prefeito Rubens Germano Costa, pela 1ª dama e atual deputada estadual Gilma Germano, pelo Arcebispo da Paraíba Dom Aldo Pagotto, pelo Dr. Valdemiro Severiano, sua esposa e por populares. A emoção toma conta de toda a avenida e, ao som do dobrado “Adeus, Getúlio” e do “Hino Cenecista”, sob calorosas palmas, chega à sua terra natal os restos mortais do picuiense do século Felipe Tiago Gomes e de sua irmã Maria Gomes . É realizado seu último desejo: descansar junto aos seus, voltar ao pó que te deu a vida. E é sobre a vida deste grande homem que este trabalho irá tratar.
    Felipe Tiago Gomes poderia ter sido mais um sertanejo pobre que, lutando por dignidade, trabalharia debaixo de um sol ardente para garantir seu sustento e o de sua família. Poderia ter sido mais um paraibano que, há séculos, luta contra a opressão dos poderosos, a miséria e a desigualdade social. Mas, em sua biografia, surgiu uma palavra que mudou toda esta história: EDUCAÇÃO. Foram estas oito letras mágicas que mudaram a história de um homem e que têm o poder de mudar o mundo.
    Hoje, as circunstâncias são totalmente diferentes daquelas de 1935. Picuí mal tinha o Ensino fundamental e concluir o Ensino Médio era quase que impossível diante de nossa realidade. Atualmente, contamos com excelentes escolas , de alto índice educacional, que contribuem para a formação dos nossos jovens, possuímos uma instituição pública de Ensino Superior  e nosso sistema de educação já foi reconhecido internacionalmente . Se, hoje, temos tudo isto, devemos estas conquistas à luta do professor Felipe Tiago Gomes.
    Um dia, ele falou: "Quando, à noite, sentado no terreiro da casa onde passarei a viver os restantes dos meus dias, olhar para o céu, terei a satisfação de contemplar as estrelas e compará-las aos milhares de amigos que fiz na minha caminhada pelo País" (RODRIGUES, SEVERIANO, SEVERIANO, 2003). Ao resgatarmos sua história, estamos reforçando as memórias de inúmeras crianças pobres que poderiam ter um destino completamente diferente se não encontrassem os projetos do Professor Felipe. Sem dúvida alguma, ele foi um homem de vanguarda e que inspirou a elaboração do atual sistema educacional brasileiro. Embarcar em sua vida, destarte, é uma aventura de saberes, mas também de emoções.


2.    A INFÂNCIA
Naquela casa simples,
Você falou pra mim
Que eu tivesse cuidado
E não sofresse com as coisas desse mundo.
Que eu fosse um bom menino,
Que eu trabalhasse muito (...)

Aquela casa simples (Roberto Carlos)

Tudo começou em 01 de maio de 1921. No sítio Barra do Pedro, no município de Picuí-PB, nascia aquele que, mais tarde, se tornaria o Comendador da Educação Brasileira. Filho de Elias Gomes Correia e Ana Maria Gomes, Felipe Tiago Gomes nasceu num meio físico, econômico e social áspero. Na zona rural do sertão nordestino, descobriu, logo cedo, as dificuldades da vida. As tentativas de superar os dramas da seca mostravam àquele garoto o significado da superação. E, com certeza, foi diante das respostas que ele encontrou durante esta fase de sua vida que construiu o legado que deixou para o povo brasileiro.
Segundo o próprio Felipe, ele passou sua infância de pés descalços, sendo ferido pelos espinhos dos matagais secos da caatinga e com mãos cheias de calos oriundos do trabalho com a enxada. Assim como seus pais, era da agricultura que conseguia o seu sustento econômico. E, diante das situações climáticas adversas, assim como muitos nordestinos, também sofreu com a escassez.
Mesmo diante de todo este cenário nada poético, sua família sempre teve a consciência de que era através da educação que o ser humano firmaria um futuro digno. Quando não estava ajudando seu pai no trabalho agrícola, o menino Felipe tinha aulas de alfabetização com sua irmã Francisca. Ela já havia concluído o antigo primário na cidade de Picuí e repassava os conhecimentos adquiridos ao seu irmão caçula. Em seguida, estas aulas passaram a ser ministradas pela Dona Nativa, um exemplo de ser humano que não media esforços para ajudar as crianças a ingressarem no mundo da leitura.
Porém, à medida que os anos iam passando, o garoto Felipe precisava deixar seu ambiente familiar para prosseguir seus estudos na cidade. Foi em Picuí que ele cursou o ensino fundamental, durante os anos de 1933 a 1935, na escola pública. Vislumbrando sua mente brilhante e percebendo seu esforço e dedicação com os estudos, o professor Manuel Pereira do Nascimento, notando que, se continuasse em Picuí, certamente, Felipe Tiago Gomes deixaria de estudar (por falta de oportunidades), resolveu encaminhá-lo para o Colégio Pio XI, na cidade de Campina Grande, distante cerca de 120 km de sua gente.
    Neste momento, Felipe viu-se, talvez, na situação mais difícil de sua vida. Ele sempre foi um garoto do interior, mais precisamente da zona rural, praticamente não saia de sua cidade e, consequentemente, mal conhecia Campina Grande. Porém, para conquistar seus sonhos e prosseguir nos estudos, teria de abdicar de sua vida calma do interior para viver a vida agitada da cidade grande. Não pensou duas vezes: agarrou a oportunidade com todas as forças e partiu para Campina em busca de dias melhores.


3.    A VIDA EM CAMPINA GRANDE E AS DIFICULDADES
Mas te confesso na saudade
as dores que arranjei pra mim
(...)
Recordo a casa onde eu morava,
o muro alto, o laranjal.
Meu flambuaiã na primavera
que bonito que ele era
dando sombra no quintal

Meu pequeno cachoeiro (Roberto Carlos)

    Ao chegar a Campina Grande, Felipe Tiago Gomes encontra uma realidade totalmente diferente daquela que ele vivenciava em seu pequeno Picuí. Grandes prédios, muitas pessoas e a solidão da cidade grande poderiam ter sido motivos para que, imediatamente, abdicasse da oportunidade que lhe foi concedida e voltasse para sua terra, para sua gente. Mas, a busca pelo saber foi maior e, enfrentando todas as dificuldades, encarou corajosamente sua nova vida.
    O Colégio Pio XI era um dos mais tradicionais do estado da Paraíba. Filhos de grandes políticos, empresários e membros do Judiciário eram predominantes em suas instalações. O filho de agricultor do interior do estado sofreu uma grande barreira para se integrar neste mundo que até então não lhe pertencia. Hoje, o bullying toma conta dos noticiários nacionais como se fosse uma novidade, porém trata-se de uma forma de violência psicológica bem antiga. Certamente, inserido neste novo universo, o jovem Felipe também sofreu desse mal. Mas, se nem a seca que devasta o semi-árido nordestino conseguiu derrubá-lo, não seriam pessoas preconceituosas e sem sentimentos que iria fazer isto.
    Dedicou-se plenamente aos seus estudos como forma de retribuir a oportunidade que lhe foi concedida, se tornando um dos melhores alunos de sua sala. Foi no Pio XI que nosso herói começou a desbravar o mundo através das leituras e dos conhecimentos adquiridos. Além disso, a vida própria e distante da família fez com que ele começasse a dar sozinho os seus primeiros passos, adquirindo experiências únicas que só a vida nos concede.
    Depois de ter concluído o antigo ginásio, foi vítima de uma das maiores dores de sua vida: perdeu sua mãe. Dona Ana Maria Gomes, que sempre foi um exemplo para o garoto, havia partido numa viagem sem volta. Diante das dificuldades financeiras e em meio à dor da perca de sua genitora, Felipe, praticamente, viu-se obrigado a retornar a Picuí, já que não tinha mais condições de se manter na cidade grande.


4.    SURGE UMA NOVA OPORTUNIDADE
Quero levar o meu canto amigo,
A qualquer amigo que precisar.
Eu quero ter um milhão de amigos
E bem mais forte poder cantar.

Eu quero apenas (Roberto Carlos)

    Carregando duas dores (a morte de sua mãe e a possibilidade de abandono de sua formação educacional), na mente daquele jovem sertanejo, que tinha aprendido tantas coisas na cidade grande sem esquecer suas origens, só restava agora uma solução: voltar à sua vida de infância, trabalhando na lavoura, enfrentando as dificuldades do semi-árido e lutando por uma vida melhor para si e para os seus.
    Sabendo do ocorrido, o senhor José Saldanha, juiz de Direito, e o dentista Dr. Morais resolveram ajudá-lo. Este o hospedou em sua casa no Recife e aquele lhe deu auxílios financeiros para se manter num novo estado. Felipe Tiago Gomes abraçou, mais uma vez, a oportunidade que a vida lhe ofereceu e partiu para o Recife, tendo em vista prosseguir em sua vida escolar.
    Com o tempo, conheceu um grande amigo chamado Everardo Luna e, convidado por ele, foi morar na Casa do Estudante da capital pernambucana. Querendo adquirir sua independência financeira, Felipe Tiago Gomes resolve começar a trabalhar. Inicialmente, ocupou o cargo de porteiro e, em seguida, conseguiu o de bibliotecário.
    Conseguindo um emprego que coincidia com sua paixão pela leitura, foi no cargo de bibliotecário que o jovem Felipe teve acesso a saberes diversificados que incrementaram a sua formação. Foi também nesta biblioteca que se foi firmando as bases do que mais tarde seria sua grande contribuição para a educação brasileira: a CNEC. Ao ler obras como “O Drama da América Latina”, de John Gunther, ele foi conhecendo experiências educacionais com seres vulneráveis, seja econômica ou culturalmente, que despertaram sua especial atenção. Será que ele poderia fazer o mesmo no seu sertão? Mais tarde, chegou à conclusão que sim.
    No ano de 1944, concluiu o pré-jurídico e prestou vestibular para a Faculdade de Direito do Recife, sendo aprovado. Iniciava-se, então, uma nova vida: a acadêmica.
    O brilhante desempenho na sua primeira fase educacional repetiu-se no Ensino Superior. Quando estava cursando o segundo ano de Direito, foi escolhido como representante da turma no Diretório da Faculdade. Felipe Tiago Gomes já começava a despertar seus dons de liderança e representatividade que foram marcas de toda sua vida. Além disso, dois anos depois, tornou-se Presidente do mesmo Diretório.
    Sua luta, perseverança e coragem adquiridas ao longo da vida sofrida, mas de sucesso, chamaram a atenção do mundo acadêmico que passou a ver, naquele jovem oriundo do interior do estado da Paraíba, um grande líder. Quando estava terminando o curso, foi eleito presidente do DCE (Diretório Central dos Estudantes) de Pernambuco, fato este que intensificou sua luta em prol da classe estudantil.
    Durante seu mandato, criou o Teatro Universitário, valorizando, assim, a cultura e a liberdade de expressão num momento fundamental da história política do Brasil . O estado do Pernambucano, que sempre foi pioneiro nas lutas sociais e liberais, passou a contar com mais uma fonte para expressão de seus sentimentos libertários.


5.    O HOMEM PÚBLICO
Me lembro de todas as lutas
meu bom companheiro.
Você tantas vezes provou
que é um grande guerreiro

Amigo (Roberto Carlos e Erasmo Carlos)

    Não demorou muito para que Felipe Tiago Gomes despertasse seu espírito de homem público. Na Universidade, sempre esteve presente nos movimentos estudantis. Sua inteligência e seu caráter de liderança chamaram a atenção do cenário político nacional. Inicialmente, filiou-se à UDN (União Democrática Nacional) e, no estado do Pernambuco, fez parte de um movimento de oposição à ditadura do Estado Novo implantada por Getúlio Vargas.
    Em 19 de janeiro de 1947, Oswaldo Trigueiro, grande líder paraibano da UDN, foi eleito Governador do Estado da Paraíba. As ligações partidárias e com a Faculdade de Direito do Recife  fizeram com que o então chefe do estado nomeasse Felipe Tiago Gomes como prefeito de Picuí. Ele ocupou o cargo entre 16 de março de 1947 e 30 de novembro do mesmo ano. Durante seu curto mandato, foi o prefeito mais jovem da Paraíba. Esta característica trouxe um caráter jovial e revolucionário para a Administração Pública do município, inspirado sempre nas idéias nacionais da UDN representadas pelo brilhante jornalista Carlos Lacerda.
    Durante seu mandato, continuou cursando Direito na Faculdade de Recife. Este foi um dos motivos que ocasionou sua saída do cargo. O professor Felipe percebeu que não teria condições de conciliar as duas atividades ao mesmo tempo. Como sempre, lutou pela sua formação educacional e colocou-a, novamente, em primeiro lugar. Após o fim do mandato, reintegrou-se à Campanha do Ginasiano Pobre (gênese da CNEC) que será tratada no próximo capítulo.
    Mesmo envolvido nesta Campanha, ainda exerceu os cargos de integrante da Campanha de Erradicação do Analfabetismo do Estado do Rio de Janeiro em 1950, Diretor do Departamento de Ensino Médio da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro em 1958 e Membro Diretor da Associação Brasileira de Educação na década de 1960, dentre outros.

6.    O SONHO SE TORNA REALIDADE: SURGE A CNEC
Amigo, avante!
Na falange Cenecista,
Ocupa o teu lugar pelo Brasil
Com fervor de idealista:
Trabalhar, Trabalhar!

Hino Cenecista (Dulce de Oliveira Vermelho)

    Felipe Tiago Gomes sentiu na pele as mazelas da desigualdade social. Foi um menino pobre, do interior, filho de agricultores e que, para conseguir ter uma boa formação educacional, teve que abandonar sua terra e sua família. Mesmo após ter vencido a grande batalha da vida, Felipe jamais esqueceu o seu longo e árduo percurso. Foi pensando em dar a outras crianças pobres a oportunidade obtida que surgiu a sua maior contribuição para a educação brasileira: a Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC).
    Embora tenha se formado em Direito, nunca exerceu, de forma nata, a profissão de jurista. A academia tinha lhe dado outra grande contribuição: o poder de criar mecanismos de ajudar o próximo. E foi com este aprendizado que o professor Felipe realizou sua grande obra.
Tudo começou em 29 de julho de 1943. Nesta data, foi fundada, na cidade do Recife-PE, pelo nosso picuiense do século, a Campanha do Ginasiano Pobre. O seu objetivo era oferecer um ginásio gratuito àqueles estudantes que não tinham condições financeiras para custeá-lo. Ao longo de sua história, sua nomenclatura sofreu diversas alterações: transformou-se em Campanha dos Educandários Gratuitos, Campanha Nacional dos Educandários Gratuitos e, por fim, Campanha Nacional de Escolas da Comunidade.
    O grande sucesso da CNEC foi a preocupação com o próximo. Nela, o professor Felipe Tiago Gomes fez questão de prestar uma assistência educacional igualitária, independentemente de raça, cor, sexo, religião e, principalmente, situação econômica. A CNEC sempre foi um grande coração de mãe.
    Sem dúvida alguma, trata-se de uma das instituições mais sérias da história deste país. Afinal, são quase 70 anos formando grandes médicos, juízes, advogados, engenheiros, educadores, enfim, cidadãos. Sua sede atual é em Brasília-DF, porém tem ações em todo o território nacional.
    O professor Felipe, ao classificar a CNEC como escola comunitária, inaugurou uma nova modalidade de ensino no Brasil: buscava-se conciliar os fatores positivos encontrados em instituições públicas e privadas. Ao nascer através de interesses das próprias comunidades, as escolas cenecistas buscavam enquadrar-se nas realidades locais, a fim de valorizar as práticas e costumes regionais. O sistema educacional, portanto, era criado e comandado pela própria sociedade. Além disso, é a própria comunidade que, conjuntamente, se responsabiliza por grande parte das despesas de funcionamento das instituições. Logo, exercita-se o aspecto de cooperativismo e solidariedade no âmbito local.
    Além disso, os professores são da própria comunidade, gerando emprego e dando oportunidades às potencialidades locais. As escolas são construídas em regime de mutirão, iniciando, em regra, pelo ensino fundamental, e evoluindo até atingir o ensino médio. Porém, o entusiasmo de Felipe Tiago Gomes fez a CNEC ir mais além e, desde 1963, vêm sendo criadas também instituições de ensino superior.
    O papel social da CNEC é bem diversificado. Ao longo de sua história, criou colégios agrícolas, espaços esportivos, serviços de comunicação e radiodifusão comunitárias, política de intercâmbio e unidades de comercialização e prestação de serviços.
O sonho de Felipe não ficou restrito à sua pessoa. Em nenhum momento, ele usou da CNEC para fazer promoção pessoal. Em vez disto, sempre buscou uma renovação na diretoria, dando espaço para que ex-alunos cenecistas também pudessem gerenciar aquela instituição que lhe deu oportunidades.
    Sem dúvida alguma, a CNEC foi a grande filha do Professor Felipe Tiago Gomes e foi graças ao seu desempenho na sua criação e manutenção que lhe foi outorgado o título de Comendador da Educação Brasileira. Mesmo com todo este renome internacional, Felipe nunca esqueceu sua terra.



7.    O RETORNO E AS CONTRIBUIÇÕES A PICUÍ
Eu cheguei em frente ao portão
Meu cachorro me sorriu latindo
Minhas malas coloquei no chão
Eu voltei!...

O Portão (Roberto Carlos)

    Após se tornar um profissional bem sucedido e ter atingido patamares dignos da sua personalidade, chegou a hora do professor Felipe retribuir o carinho e o amor de sua terra natal. Embora já tivesse contribuído quando assumiu o cargo de Prefeito, foi através de sua criação (a CNEC) que ele trouxe as obras estruturantes para o desenvolvimento do município. Diferentemente da maioria dos gestores da época que realizavam verdadeiras indústrias da seca , Felipe Tiago Gomes sempre esteve preocupado com a melhoria da qualidade de vida do povo picuiense.
    Não basta apenas destacarmos suas obras materiais em prol de sua cidade, mas, principalmente, as imateriais, aquelas que não são feitas de cimento e cal, mas sim de atenção e carinho.
    Felipe Tiago Gomes desenvolveu a educação de Picuí, ao criar a Escola Cenecista Ana Maria Gomes (em homenagem à sua mãe), a Fazenda-Escola e a Creche Tia Zefa. Foi também a CNEC, na pessoa de seu fundador, que construiu o Bairro Cenecista (composto de cerca de 60 casas na época) com a ajuda do SENAR e do SEHAC. Além disso, foram construídos o Estádio Municipal Amauri Sales de Melo, a Rádio Cenecista, a Confecção e Serigrafia Cenecista, o Hospital Regional Felipe Tiago Gomes, a Pousada Cenecista, a famosa Casa da CNEC (hoje, Memorial Felipe Tiago Gomes), dentre outras obras estruturantes do nosso município.
    Foi também através da CNEC que Picuí tornou-se, na segunda metade do século XX, conhecida nacionalmente a ponto de receber a visita de Ministros de Estado, deputados, senadores e até um Presidente da República: José Sarney.
    Mas, foi no plano imaterial que o professor Felipe deixou suas principais marcas. O carinho e a atenção com os alunos cenecistas, o respeito e o cuidado com as crianças pobres e o apoio à saúde e assistência social foram traços da sua personalidade.
A valorização da cultura local também era preocupação constante de Felipe Tiago Gomes. A manutenção das tradições, com a participação da CNEC em eventos como a Festa de São Sebastião, o São Pedro e os Desfiles de 07 de setembro, abrilhantavam e emocionavam o povo picuiense.
    Além disso, grandes diamantes de nossa terra e cidades vizinhas foram lapidados pelo Comendador da Educação Brasileira. A professora Raimunda Souza e o professor Fenelon Luz, dois grandes mestres de nossa terra, tiveram na CNEC a oportunidade de desenvolver seu trabalho em prol da educação de Picuí. A Dra. Maria de Lourdes Henriques, que em sua obra  faz questão de destacá-lo como primo e grande amigo, ganhou todo o apoio do nosso herói para colocar em prática seus projetos de ensino. O radialista João Tavares (nosso popular J Tavares), maior profissional do Curimataú e Seridó da Paraíba na sua área, chegou a Picuí através da CNEC e do professor Felipe Tiago Gomes. A professora e diretora Maria Inês Dantas de Araújo, proprietária de uma das maiores escolas da região, também utilizou as experiências com o professor Felipe para criar um método de ensino que já levou diversos jovens picuienses às universidades. O professor Robson Rubenilson, ex-aluno cenecista, ganha destaque nacional pela gestão que realiza na Escola Estadual Professor Lordão, bem como através dos Prêmios que já logrou ao longo de sua carreira docente.
    A CNEC ajudou a formar diversos médicos, juízes, promotores, advogados, engenheiros, professores, dentre outros profissionais, que encontram na figura de Felipe Tiago Gomes um símbolo de homem e educador. Essas conquistas imateriais são indescritíveis. Só quem viveu e conviveu com o fenômeno cenecista sabe da sua importância para o desenvolvimento de Picuí.


8.    O ADEUS
Já está chegando a hora de ir.
Venho aqui me despedir e dizer:
Em qualquer lugar por onde eu andar,
Vou lembrar de você.

Despedida (Roberto Carlos)

    Felipe Tiago Gomes era um homem realizado. Tinha feito de sua passagem pela Terra uma forma de auxílio para aqueles que mais precisavam. Já idoso e sofrendo problemas de saúde, seus últimos dias neste planeta foram na cidade de Brasília-DF. Sempre esteve ao lado de seus familiares, a exemplo de seu sobrinho Dr. Valdemiro e de sua inseparável irmã e companheira de toda uma vida Maria Gomes. Esta sempre demonstrou um caráter de mulher valente e íntegra, participando, ativamente, das atividades desempenhadas pelo seu irmão. Existia entre eles um amor fraternal imenso e inexplicável. Foram inseparáveis até na morte, já que ela veio a falecer 29 dias após seu irmão.
    Foi no turno da tarde do dia 21 de setembro de 1996 que uma notícia abalou a cidade de Picuí. Era anunciado na Rádio Cenecista, a mesma que ele ajudou a fundar, o falecimento do maior picuiense de toda a história: Felipe Tiago Gomes. Não resistindo a complicações cardíacas, faleceu em Brasília deixando saudades em todos aqueles que havia ajudado, seja através da CNEC, seja através de um conselho ou de um sorriso.
    Cumpriu sua função na Terra. Era chegada a hora de descansar junto a Deus e a seus pais no paraíso eterno.




9.    CONSIDERAÇÕES FINAIS (FELIPE VIVE!)
Lindo é,
Lutarmos por um mundo bem melhor
É fazer
Uma canção feliz em tom maior
Lindo é estudar
Tendo no peito a fibra de sempre vencer
É ter na alma a satisfação
de ser Cenecista de coração.

Lindo é (Vicente Janetti Junior)

    O homem se foi, mas seu legado fica. O nome Felipe Tiago Gomes, mais do que nunca, soa por todo o Brasil como um símbolo a ser seguido. E é por isto que resgatar a memória deste ilustre brasileiro se faz necessário. A iniciativa do Dr. Valdemiro Severiano de Maria vai muito além de um desejo de sobrinho em preservar a memória do tio. Sua iniciativa é a de um brasileiro cenecista, paraibano assim como Felipe, que visa mostrar para as gerações que não conheceram o fundador da CNEC que os sonhos podem se tornar realidade.
    A construção do Memorial Felipe Tiago Gomes e os projetos que o mesmo vem desempenhando servem de exemplo para os nossos jovens de que ainda é possível construir um país melhor através da educação. Se um menino pobre, filho de agricultores, conseguiu chegar aonde chegou, 190 milhões de pessoas de mãos dadas também podem construir um Brasil desenvolvido, sem miséria e sem corrupção.
    Virão novos Felipes, cada vez mais idealistas, que irão dar prosseguimento à obra daquele que tanto fez pela educação brasileira. Afinal, FELIPE VIVE na memória de sua terra, na memória de sua gente.



REFERÊNCIAS


BOECHAT, I. Depoimento de Ivone Boechat. Felipe Tiago Gomes – O Apóstolo da Educação Comunitária. Disponível em: <http://www.oocities.org/felipetiagogomes/depoim03.html>. Acesso em: 22 set. 2011.

HENRIQUES, M.L. História de Vida - 45 anos educando. João Pessoa: Ideia, 2003, 366 p.

HENRIQUES, M.L. Depoimento de uma autêntica educadora cenecista a Felipe Tiago Gomes, idealizador da Escola Comunitária no Brasil e Comendador da Educação. Felipe Tiago Gomes – O Apóstolo da Educação Comunitária. Disponível em: <http://www.oocities.org/felipetiagogomes/depoim04.html>. Acesso em: 22 set. 2011.

QUEIROZ, R. O Sonho do Professor Felipe. Felipe Tiago Gomes – O Apóstolo da Educação Comunitária. Disponível em: <http://www.oocities.org/felipetiagogomes/artigo02.html>. Acesso em: 22 set. 2011.

RODRIGUES, A; SEVERIANO, F.T.L; SEVERIANO, R.J.D. A CNEC. Felipe Tiago Gomes – O Apóstolo da Educação Comunitária. Disponível em: <http://www.oocities.org/felipetiagogomes/historia.html>. Acesso em: 22 set. 2011.

RODRIGUES, A; SEVERIANO, F.T.L; SEVERIANO, R.J.D. História. Felipe Tiago Gomes – O Apóstolo da Educação Comunitária. Disponível em: <http://www.oocities.org/felipetiagogomes/historia.html>. Acesso em: 22 set. 2011.

SILVA, R.S. Saudades do ser humano Felipe Tiago Gomes. Felipe Tiago Gomes – O Apóstolo da Educação Comunitária. Disponível em: <http://www.oocities.org/felipetiagogomes/depoim07.html>. Acesso em: 22 set. 2011.

SODRÉ, D. Declarações feitas pelo Almirante Benjamin Sodré sobre sua atuação como membro da CNEC. Felipe Tiago Gomes – O Apóstolo da Educação Comunitária. Disponível em: <http://sites.google.com/site/felipetiagogomes/depoimentos/dora-sodre>. Acesso em: 22 set. 2011.


SOBRE O AUTOR


Joagny Augusto Costa Dantas nasceu em Picuí-PB em 19 de julho de 1991. É filho de Aguifá Lira Dantas e Jozelma Cecília da Costa Dantas. Bacharelando em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba, ele atua nas áreas de Direito Público e Privado. É membro do Grupo de Estudos "Novos Paradigmas Constitucionais" e pesquisador através do Projeto de Pesquisa "Estado Federado, Constituição e Globalização: Uma análise da relação entre a dimensão normativa internacional e os limites do poder constituinte derivado decorrente em face do paradigma imposto pelo art. 5º, § 3º da Constituição Federal". Participou do grupo de estudos "Direito, Tecnologia e Realidade Social: paradoxos, desafios e alternativas" e faz parte das linhas de pesquisa: "Bioética e Direitos Humanos" e "Poder Constituinte, Reforma Constitucional e Fenômenos Políticos Contemporâneos". É Monitor bolsista da disciplina Direito Civil I da instituição acima citada e professor do Cursinho Revisão para o Vestibular em sua terra natal.
Produção Bibliográfica:
DANTAS, J.A.C. As Desequiparações Permitidas sob o âmbito da CF-88: Avanço na compreensão do princípio da isonomia. Âmbito Jurídico, v. 91, p. 9975, 2011.

DANTAS, J.A.C. As Desequiparações Permitidas sob o âmbito da CF-88: Avanço na compreensão do princípio da isonomia. Revista Jurídica e Cultural A Barriguda, v. 01, p. 27-37, 2011.

DANTAS, J.A.C.; ARAUJO, G.S.G.; FARIAS, C.L.D.; OLIVEIRA, M.S. Aborto: direito da gestante? 2010. (Apresentação de Trabalho/Seminário).

DANTAS, J.A.C.; DANTAS, M.C.; GALDINO, T.A. Estado Federado, Constituição e Globalização: uma análise da relação entre a dimensão normativa internacional e os limites do Poder Constituinte Derivado Decorrente em face do paradigma imposto pelo art. 5º, § 3º da Constituição Federal. 2011. (Apresentação de Trabalho/Congresso).

DANTAS, J.A.C.; FARIAS, C.L.D.; CAMPOS, C.P.S.G.; OLIVEIRA, K.R.C. A evolução da Igualdade de Gênero no constitucionalismo brasileiro. 2011. (Apresentação de Trabalho/Outra).

DANTAS, J.A.C.; FREITAS, T.S.; OLIVEIRA, K.R.C.; CLEMENTINO, J.E.; COSTA, L.A.F. A instalação de um presépio natalino no hall de entrada do CCJ da UEPB fere a Constituição Federal? Jus Navigandi, v. 17, p. 3110, 2012.